UM MOMENTO


Comecei a contar algo que tinha acontecido comigo para um amigo. Conheci alguém muito legal, que me acolheu com seus sorrisos, seus beijos, seus abraços.... Me fez sentir coisas aqui dentro, me disse “eu gosto de você” olhando em meus olhos, de uma maneira tão espontânea, inesperada e sincera que, na hora, eu até demorei para responder de volta porque eu não acreditei. Foi algo que me fez pensar que finalmente, depois de tanto tempo, algo estava começando para valer. Mas os dias passaram e, aos poucos fomos nos afastando, não por vontade minha, eu fui empurrado. Fiquei me perguntando “qual a razão disso tudo? Alguém diz que gosta de você e, uns dias depois te afasta e diz que vocês são de mundos diferentes...”

A resposta é: um momento. É tudo o que isso foi, um momento bom ao lado de alguém que me fez bem, e eu retribuí. É lógico, não me disseram nenhum “eu te amo”, não ficamos juntos durante anos ou meses, não que haja um tempo definido para gostar de verdade de alguém, mas é que a gente costuma dizer que gosta de um monte de coisas na nossa vida: músicas, filmes, pessoas, comidas, lugares.... A diferença está na intensidade, no momento.

Eu estava me sentindo triste, até que meu amigo me disse que tudo não passava de um momento. Parei para pensar e, certas vezes tudo o que temos é aquele instante que estamos vivendo, e depois que ele passa não resta mais nada, apenas o vazio no espaço, e as imagens na memória. Talvez estar junto de alguém num momento é muito bom, mas depois que esse alguém vai embora sua vida continua, e algumas vezes aquele momento não tem mais tanta importância, mas teve no instante em que aconteceu. Às vezes aquele único momento se estende e vocês continuam repetindo para o resto da vida enquanto for bom, mas às vezes aquele foi só um momento.

Dois meses depois disso tudo voltamos a nos falar. Havia coisa não ditas, e eu odeio o lance não-verbalizado, tudo que precisa ser dito deve ser dito. Me chamou para sair e eu fui, cheguei a pensar que realmente era pra ser. Mas as coisas não haviam mudado, muito pelo contrário, estando ao seu lado nunca havia me sentido mais distante. Tive certeza que os momentos que passamos antes realmente foram únicos e não iriam se repetir. Mas às vezes, mesmo sabendo o resultado, o ser humano precisa tirar a prova, precisa ver com os próprios olhos, sentir na pele, pagar para ver.

E foi assim que entendi que não era para ser, independente de quaisquer explicações que tenhamos dado para o afastamento anterior, o espaço que ficou não seria preenchido. Toda vez que alguém vai embora e leva um pedaço teu não tem como voltar e devolver no lugar. Não há como repetir o momento que passou. O máximo que se pode fazer é começar uma nova história. Mas se esta história tiver realmente acabado, troque o livro. Não insista em algo que você já viu que não vai dar certo. Sempre há tempo para novas histórias repletas de momentos únicos e inesquecíveis.

A vida é um amontoado de momentos e temos que aproveitá-los ao máximo, se permitir sem medos, desde que não façamos mal ao outro, mas viver sim cada dia como único, porque às vezes as coisas se estendem por meses, anos ou uma vida, mas às vezes tudo o que temos é apenas uma chance, um momento...

Comentários

  1. Remeteu aos estudos e livros do Zigmunt Bauman, principalmente Amor Líquido e Vida Líquida.

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